Habilitações, Capacidades e Competências


A produção de um produto ou serviço requer a coordenação do esforço individual de numerosos especialistas, com múltiplos e diferentes tipos de conhecimento. As organizações são entidades integradoras de conhecimento, na medida em que, existindo como instituições para a produção de bens e serviços, conseguem criar as condições mediante as quais um conjunto alargado de indivíduos integra, nesses produtos e serviços, conhecimento individual e especializado.


No decurso da atividade normal as organizações fazem uso das aptidões individuais dos seus colaboradores, sobre as quais constroem competências que lhes permitem deter capacidades.

Aptidão, Competências e Capacidades

Uma aptidão é a habilidade individual para aplicar caraterísticas pessoais e conhecimento na execução de atividades. Nesse contexto, conhecimento é a aptidão para usar determinada informação com o intuito de compreender e resolver questões e problemas concretos.

Através da integração de recursos específicos, em processos constituídos por indivíduos ou grupos, a empresa tem a possibilidade de realizar atividades que a distinguem das suas competidoras.

Competência consiste na habilidade da empresa para desenvolver e gerir recursos que suportem uma determinada capacidade, utilizando-os conjuntamente com processos organizacionais com o objetivo de atingir um determinado fim. As competências são atributos organizacionais, transversais à empresa, que resultam dos processos que permitem agregar a aptidão e o conhecimento individual que está na posse dos colaboradores e outros interessados da organização.

Capacidades da empresa consistem na habilidade da empresa para mobilizar recursos através de ações, em combinação e encapsulando, processos explícitos com elementos e recursos tácitos (como sejam a liderança e a cultura organizativa). As capacidades são, frequentemente, específicas da empresa sendo reforçadas e aprofundadas ao longo do tempo através das integrações complexas que ocorrem entre os recursos da empresa e as suas práticas e processos.

Numa perspetiva estratégica, capacidade organizacional define-se como a aplicação estratégica de competências. Neste contexto, o processo de definição e criação das desejadas capacidades organizacionais é um processo contínuo, determinado pelos objetivos estratégicos da empresa e em que a definição de novas capacidades criam as necessidades para desenvolver ou melhorar competências específicas.

Competências Centrais e Capacidades Dinâmicas

As competências que são essenciais para o negócio principal da empresa, e que a diferenciam em relação aos seus competidores, são chamadas de competências centrais. Essas competências centrais consistem na aprendizagem coletiva realizada na empresa em relação à forma como coordenar as diversas aptidões de produção, e manifestam-se em atividades de negócio e processos que são vistos como fonte de vantagem competitiva sustentada.

Desta forma as competências centrais distinguem-se das demais competências porque conseguem incorporar:

  1. Aprendizagem coletiva da organização, i.e. o conhecimento testado e provado que a empresa adquire ao longo do tempo no âmbito dos seus diversos processos de negócio;
  2. Aptidões de coordenação de, diferentes operações, diferentes tecnologias e de uma base de clientes diversificada;
  3. Conhecimento profundo dos produtos e das possibilidades de mercado no contexto tecnológico da empresa, ao qual se soma o conhecimento necessário para antecipar as necessidades futuras dos clientes;
  4. Conhecimento profundo dos produtos e das possibilidades de mercado, inerentes à base de conhecimento tecnológico da empresa;
  5. Conjunto de ativos intangíveis que se constituem como fatores de ligação entre as diversas áreas de negócio da empresa.

A identificação das competências que são centrais para uma determinada organização passa por validar a existência de três requisitos (1) Se fornece à empresa o acesso potencial a mercados alargados; (2) Se contribui de forma clara e percetível para os benefícios reconhecidos pelo consumidor final no produto ou serviço da empresa; (3) Se é difícil de ser imitada pelos competidores.

O dinamismo dos mercados, definido como sendo as alterações no ambiente competitivo que afetam a forma como as empresas competem entre si e a forma como respondem às necessidades dos clientes, evidencia a necessidade de criar organizações capazes de se anteciparem às necessidades dos clientes.

Para tal os gestores devem centrar-se na criação e desenvolvimento do portefólio de competências da sua organização e não no portefólio de produtos ou de negócios os quais, face a rapidez e mutabilidade do mercado, têm uma importância temporária.

Esta definição de competências e de competências centrais torna claro duas caraterísticas importantes: (1) Elas vão sendo desenvolvidas no seio de uma determinada empresa pelo que não são possíveis de adquirir de uma forma rápida “comprando no mercado”; (2) Ao contrário dos ativos físicos que se consomem com a utilização, as competências centrais melhoram á medida que são usadas e partilhadas.

As capacidades organizacionais podem evoluir e alterar-se ao longo do tempo, e podem ser agrupadas em duas categorias – capacidades operacionais e capacidades dinâmicas.

  • Capacidades operacionais, são processos ou conjuntos de processos[1] de alto nível que conferem à gestão um conjunto de opções para a produção de um determinado produto ou serviço.
  • Capacidades dinâmicas, não envolvem a produção de um bem ou serviço comercializável, mas a criação, integração ou reconfiguração de capacidades operacionais e, nesta medida só contribuem para o resultado da empresa de forma indireta, através do impacto que têm nas capacidades operacionais.

A definição de capacidades dinâmicas introduz igualmente o conceito de ciclo de vida das capacidades. O ciclo de vida da capacidade é similar ao de ciclo de vida de produto, descrevendo um conjunto de estádios definidos – crescimento, maturidade e declínio – sendo que, ao longo da vida, uma capacidade poder suportar o desenvolvimento de uma sequência de produtos ou de múltiplos produtos em simultâneo Por outro lado, em relação aos produtos, uma capacidade pode, ao longo do ciclo de vida, atravessar um maior número de estádios. Por esta razão, o ciclo de vida das capacidades pode estender-se para lá da empresa ou indústria de onde é originária.

O ciclo de vida de capacidade retrata o comportamento geral e um conjunto de possíveis caminhos que caraterizam a evolução das capacidades organizacionais. O ciclo de vida de capacidade inclui vários estádios, começando com a fundação de uma nova capacidade numa organização recentemente constituída, continuando com a fase de desenvolvimento, marcada pela construção gradual da capacidade, até atingir a fase de maturidade. Durante a fase de desenvolvimento, ou após atingir a maturidade, uma capacidade é sujeita a uma variedade de eventos com influência na sua evolução futura. Tais eventos podem condicionar o desenvolvimento da capacidade em pelo menos um de seis estádios adicionais: Retirada (morte); Compressão / Redução; Renovação; Replicação; Reafetação e Recombinação, os quais podem acontecer de forma simultânea.

Especialmente em ambientes de negócio sujeitos a mudança acelerada, abertos á competição global, e caraterizados pela dispersão geográfica das fontes da inovação e dos locais de fabrico, uma empresa que disponha de recursos e competências, mas não das necessárias capacidades dinâmicas, tem a possibilidade de, durante um curto período de tempo, poder auferir de um retorno competitivo, mas sua manutenção a longo prazo está dependente da sorte.

As capacidades dinâmicas representam a habilidade da empresa para integrar, construir, e reconfigurar as competências internas e externas difíceis de replicar, e necessárias para que a empresa se adapte às mudanças dos clientes e às oportunidades estratégicas, refletindo a aptidão da empresa para obter formas diferentes e inovadoras de vantagem competitiva no contexto de uma determinada posição de mercado.

Tais capacidades são especialmente importantes em setores fortemente tecnológicos e nos quais o sucesso depende menos da capacidade para maximizar a eficiência e as economias de escala na produção, do que da descoberta e criação de oportunidades, a eficiente combinação de conhecimentos e inovação interna e externa, da proteção da propriedade intelectual e de melhorias e implementação de boas práticas nos processos de negócio, a invenção de novos modelos de negócio, e a capacidade de tomar decisões de gestão inovadoras. Como referiu em 2006 A.J. Lafley, CEO da Proctor & Gamble “O desafio é conseguir transformar a inovação numa estratégia e num processo”.
As capacidades dinâmicas estão indiretamente ligadas com o desempenho da empresa na medida em que estão: (1) Incorporadas nos processos rotineiros da empresa (2) São capturadas pelas rotinas da empresa, e (3) Destinam-se a produzir mudanças nos recursos, nas rotinas operacionais, no conhecimento e nas competências da empresa.


[1] Em vez de processo alguns autores usam o termo “rotina” definindo-a como modelos de atividades repetitivas.
 

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